O dia do poeta
Giselle Lourenço
O dia do poeta já passou. Foi ele no dia 20 de outubro. Mas que falo eu? Tamanho absurdo! O dia do poeta é hoje, foi ontem, será amanhã
Giselle Lourenço
O dia do poeta já passou. Foi ele no dia 20 de outubro. Mas que falo eu? Tamanho absurdo! O dia do poeta é hoje, foi ontem, será amanhã
e daqui uns três dias, também será. O poeta tem seu dia todo dia.
O poeta não conta o tempo, não conta o espaço, recria a vida,
desata os nós dos sapatos, das gargantas, e desata nós.
Desata-nos. Nos desata, nos desvela, nos revela.
O poeta tem um rumo: é a linha do horizonte.
Quanto mais anda, mais ao longe vê chegar seu destino de partida,
mais de perto vê afastar sua chegada nessa vida. É assim, poetizando em despalavras, dez palavras, cinco ou duas. Quantas forem, só importa recriar o sentido e fazer sentir de novo. É a vida que não se esvai...
E no último dia 20, comemoramos o dia do Poeta em nossa Ciranda de Poesia. Foi uma festa que só a poesia pode promover. Foi a recriação da vida e todos se embebedaram de poesia. O homenageado da noite foi o Poeta Moraes – o dono do “Panfletário”, que há mais de vinte anos é distribuído pelas ruas de São José dos Campos. Sua marca: a poesia ácida, ardida. Bem politizado, o professor de história contou “causos”
E no último dia 20, comemoramos o dia do Poeta em nossa Ciranda de Poesia. Foi uma festa que só a poesia pode promover. Foi a recriação da vida e todos se embebedaram de poesia. O homenageado da noite foi o Poeta Moraes – o dono do “Panfletário”, que há mais de vinte anos é distribuído pelas ruas de São José dos Campos. Sua marca: a poesia ácida, ardida. Bem politizado, o professor de história contou “causos”
que transcendem a história. E no mais, é difícil explicar os propósitos de um poeta. Nas palavras do próprio Moraes, o poeta é aquele que trabalha
com o que há de mais requintado na linguagem que por isso,toca a vida com os cinco sentidos, num despertar incomum, pois a sociedade é anestesiada. E por isso, a importância do poeta: porque ele anuncia, denuncia, vê além. O poeta acorda o mundo. Os que gostam de submeter
não gostam muito dos poetas, porque o poeta é alguém que retira da existência o sentido dela própria e desfaz a redoma que envolve o mundo
no torpor da mediocridade.
Procurei um poema que pudesse expressar tudo isso em breves linhas,
Procurei um poema que pudesse expressar tudo isso em breves linhas,
mas são tantos! Resolvi deixar aqui o escrito do xará de nosso mediador Braga Barros – um poema de Manoel Barros. Acho que os Barros são Barros porque podem remodelar o tempo todo...
O menino que carregava água na peneira
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que era o mesmo que
Catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
(...)
Com o tempo aquele menino
Que era cismado e esquisito
Porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar
água na peneira.
No escrever o menino viu
Que era capaz de ser
Noviça, monge ou mendigo
Ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o voo de um pássaro
Botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar uma tarde botando chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda
Você vai encher os
vazios com as suas
Peraltagens
E algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.
O menino que carregava água na peneira
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que era o mesmo que
Catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
(...)
Com o tempo aquele menino
Que era cismado e esquisito
Porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar
água na peneira.
No escrever o menino viu
Que era capaz de ser
Noviça, monge ou mendigo
Ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o voo de um pássaro
Botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar uma tarde botando chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda
Você vai encher os
vazios com as suas
Peraltagens
E algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.
Oi Braga! Que bacana você colocar o texto aqui sobre a nossa Ciranda! Só você mesmo... A Ciranda de Poesia alimenta nossas vidas! Obrigada por trabalhar com tanto afinco nesse projeto! Abraços,
ResponderExcluirGiselle